domingo, 12 de abril de 2009

Serra de Sintra Passeios Pedestres, Introdução

Andei à giesta
Ao lírio maninho
Na bouça da Fresta
No Casal Velido

"Cantares do Andarilho"


«Há já alguns anos um grupo de adolescentes juntaram-se num clube, ali na Portela de Sintra, que tinha como finalidade a exploração de grutas e cavernas - a espeleologia.

O vector científico desta associação apontava, portanto, para a tentativa de explicação dos fenómenos naturais, concretamente para a descoberta do chão que pisávamos. E a Serra de Sintra era mesmo ao lado; foi para aí que nos encaminhámos, tentando compreender a complexidade da sua formação geológica, estudando as suas linhas de água, inventariando as suas belezas naturais, a vegetação, etc...

Por outro lado, a oportunidade de se terem encontrado duas ou três dezenas de jovens naqueles anos de preconceito e repressão, quando o sistema tentava manter a juventude em casa, na solidão das relações impostas (família, colegas de escola ou de emprego), levou a que estes rapazes e raparigas procurassem discutir os problemas que se iam levantando no seu espírito - a existência, os "mistérios da criação", as ideias que iam por esse mundo fora e que nos chegavam com muito atraso e deturpação, mesmo assim essas só privilégio de alguns universitários. E que outro local senão a Serra poderia oferecer as condições ideais para discutir questões tão variadas e elevadas?

Entretanto muitas coisas se passaram com esses adolescentes do princípio dos anos 70. Com o 25 de Abril proporcionaram-se outras possibilidades de aplicação das nossas forças. A liberdade de informação e comunicação levaram-nos a procurar ir ao fundo de experiências até aí proibidas, a tentar intervir directamente no curso da história, a discutir outros problemas, encontrar novas respostas.

De qualquer forma o nosso ponto de encontro continuou a ser a Serra de Sintra. Quando, cansados, desiludidos, ou simplesmente com a cabeça cheia de novas descobertas, queríamos pôr as ideias em ordem, marcávamos um acampamento nos Capuchos ou na Praia da Adraga e voltávamos a passar a noite em volta de uma fogueira cantarolando as velhas canções do Beatles, do Bob Dylan ou do Zeca Afonso, trocando panfletos e conversando.

Desses encontros nasceriam também muitos outros projectos, alguns levados à prática. Criámos ou ajudamos a criar associações culturais ou ecologistas, continuando a pensar na Serra. Fizemos, ajudámos a fazer filmes etnográficos sobre a região, pusemos em circulação jornalinhos locais em que a defesa do património arquitectónico natural sintrense era um dos objectivos centrais, escrevinhámos artigos para a imprensa regional. Sempre a pensar na Serra.

Enfim, tudo isto para dizer que esta publicação é, por um lado, um pequena homenagem a uma nossa velha companheira, e, por outro, uma tentativa de tornar mais transparente a Serra a quem ainda não a conhece. O que fazemos é, no fundo, indicar alguns passeios possíveis, sem pretendermos limitar o conhecimento da Serra de Sintra a esses itinerários. Os mapas que divulgamos foram feitos com base nas cartas dos Serviços Cartográficos do Exército e do Instituto Geográfico e Cadastral que aconselhamos a adquirir àqueles que pretendem fazer destes passeios uma constante.»


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