domingo, 14 de agosto de 2011

Senhora do Almortão

"Senhora do Almortão" é uma canção tradicional da Beira Baixa imortalizada por José Afonso em alguns dos seus álbuns, nomeadamente em "Cantares do Andarilho" (1968).



Senhora do Almortão
ó minha linda raiana
virai costas a Castela
não queirais ser castelhana

Senhora do Almortão
a vossa capela cheira
cheira a cravos, cheira a rosas
cheira a flor de laranjeira

senhora do Almortão
eu pró ano não prometo
que me morreu o amor
ando vestida de preto




No passado dia 2 de Agosto fomos ao santuário da Sra. do Almortão, situado a cerca de 6 km de Idanha-a-Nova. Algumas fotografias:


Aspecto do recinto do santuário



Entrada principal da capela



Alpendre na entrada principal



Vitral do alpendre da entrada principal da capela



Interior da capela



Aspecto do altar com a imagem da Sra. do Almortão



Ex-voto


Ex-voto




Do site da AJA-Associação José Afonso (http://www.aja.pt/?page_id=3263), o "verso dos versos":


Senhora do Almortão
A 1ª versão fonográfica desta peça emblemática do “Canto e da Guitarra de Coimbra” na década de 1920 foi gravada em Lisboa, no mês de Dezembro de 1929, por Edmundo Alberto Bettencourt, acompanhado em Guitarra Toeira de Coimbra de 17 pontos por Artur Paredes e Afonso de Sousa e, em violão aço, por Mário Faria da Fonseca: discos de 78 rpm Columbia, BL 1005 e GL 108 – WP 634. A etiqueta do disco contém as seguintes indicações: “Canção da Beira-Baixa” e “Arranjo de Arthur Paredes”. Em boa verdade, estamos perante duas canções tradicionais raianas cujas melodias foram acopladas, como aliás o próprio título do fonograma original sugere: SENHORA DO ALMOTÃO, uma, e SENHORA DA PÓVOA, outra, ambas da Beira-Baixa, reunidas numa só, tipo suite, funcionando a 2ª como refrão.
Quem primeiramente divulgou estes dois temas em Coimbra, a partir de 1915, foi o barítono, sócio do Orfeon Elias de Aguiar e membro do Grupo de Artur Paredes, José Roseiro Boavida. Boavida interpretava as duas canções separadamente, por vezes auto-acompanhando-se no violão de acordas de aço, e mantendo-se dentro das versões tradicionais. Com a entrada de Bettencourt para o Grupo de Artur Paredes, na transição de 1922 para 1923, as duas canções foram adaptadas ao estilo de Coimbra e coladas, passando a ser cantadas por Bettencourt: compasso ternário (3/4), primeira parte em Sol menor e “refrão” festivo em Ré Maior.
Na “versão Bettencourt”, gravada em 1929, há diferenças de título, de tonalidade, de letra e de arranjo de acompanhamento, em comparação com a versão gravada por José Afonso em 1981. Em Bettencourt, o título original e integral é “Senhora do Almotão e Senhora da Póvoa”. Na 1ª copla não se observam discrepâncias. Porém, na 2ª, José Afonso modifica substancialmente o 2º verso (“Minha tão linda arraiana” passa a “Ó minha linda raiana”), vertendo as conjugações verbais da 2ª pessoa do singular (“vira”, “queiras”) na 2ª pessoa do plural (“virai”, “queirais”). O mesmo procedimento se observa logo no 1º verso da 3ª estrofe. José Afonso, na gravação de 1981, interpreta este tema em compasso ternário (3/4), tom e meio abaixo de Bettencourt, com a 1ª parte em Mi menor e o refrão em Si Maior. O cantor foi servido por um belíssimo arranjo de guitarra concebido por Octávio Sérgio, de belo efeito auditivo na introdução, no intervalo entre a 3º e a 4º estrofes e no remate. Se no registo de 1981 já se notavam em José Afonso sinais de degenerescência vocal, tais sintomas surgem bastante agravados pela progressão da doença na gravação ao vivo de “Senhora do Almortão” durante o concerto no Coliseu de Lisboa, realizado em 29 de Janeiro de 1983. “Senhora do Almortão” é a 3ª das cinco peças integradas no LP “José Afonso ao vivo no Coliseu”, DIAPASÃO, DIAP 16050/1, ano de 1983, Disco 1, Lado A, faixa nº 3. Os acompanhamentos são feitos por Octávio Sérgio/Lopes de Almeida (gg) e António Sérgio/Durval Moreirinhas (vv). Posteriormente a referida antologia vinil foi remasterizada em compact disc: CD “Zeca Afonso no Coliseu”, Strauss, ST 1021010035, ano de 1993.
A Senhora do Almotão, venerada em Idanha-a-Nova, tem a sua festa 15 dias após a Páscoa. Em tempos antigos, esta canção não se cantava com refrão mas, ultimamente, têm-lhe acrescentado algumas formas de refrão. A canção tem variantes, podendo a melodia ser em tom maior ou em tom menor. Conforme se disse, no disco de Bettencourt consta Almotão e não Almurtão. Uma outra forma de grafia popularizada é Almortão. Todas são correctas mas, a primeira parece-nos preferível.
A Senhora da Póvoa, festejada na antiga aldeia de Vale de Lobo, hoje Vale da Senhora da Póvoa, Concelho de Penamacor, recai na 2ª feira de Pentecostes. A canção em epígrafe também tem variantes musicais e literárias.
Existe transcrição musical da versão popular da “Senhora do Almurtão” em Rodney Gallop, “Cantares do Povo Português”, Lisboa, Instituto de Alta Cultura, 1960, págs. 94-95; idem, Michel Giacometti e Fernando Lopes Graça, “Cancioneiro Popular Português”, Lisboa, Círculo de Leitores, 1981, versão de Idanha-a-Nova, em compasso 2/4 e tom de Fá menor (reprodução em Rosa Maria Torres, “As canções tradicionais portuguesas no ensino da música”, Lisboa, Caminho, 1998, pág. 174; idem, para a versão de Penamacor, págs. 186-187). Há solfas, com variantes, da Senhora da Póvoa, em Rodney Gallop, “Cantares do Povo Português”, Lisboa, 1960, págs. 100-101. Uma versão da Senhora da Póvoa”, de Atalaia do Campo, consta em Fernando Lopes Graça, “A canção popular portuguesa”, 4ª edição, Lisboa, Caminho 1991, pág. 158 (1ª edição de 1953).
José Afonso conhecia uma das versões melódicas populares locais de “Senhora do Almortão”, tendo efectuado a respectiva gravação no LP “Cantares de Andarilho”, Porto, Orfeu RT LP 18029, ano de 1968, Face B, Faixa nº 4, acompanhado à viola por Rui Pato. Por seu turno, a versão melódica gravada por Bettencourt aparece com notação musical manuscrita em Carlos Manuel Simões Caiado, “Antologia do Fado de Coimbra”, Coimbra, 1986, págs. 164-165, verificando-se na referida solfa omissão de notas musicais. A letra impressa na pág. 164 também não corresponde inteiramente ao fonograma Bettencourt.
A gravação de Edmundo Bettencourt encontra-se disponível em vinil: LP “Fados de Coimbra – Edmundo Bettencourt”, Lisboa, EMI 2402451, ano de 1984, Lado 1, faixa nº 1, e em cassete. Este trabalho de remasterização não identifica os instrumentistas que são Artur Paredes/Afonso de Sousa (gg) e Mário Faria da Fonseca (violão), o que é pena, pois o arranjo de Artur Paredes é magnífico e pioneiro para a época. Obra disponível também em compact disc:
-Heritage, “Fados from Portugal”, HT CD 15, Londres, Interstate Music, 1992;
-“Arquivos do Fado”, Macau, Tradisom, Vol. II, TRAD 005, ano de 1994, faixa nº 1, cópia da edição londrina Heritage;
-Col. “Um Século de Fado”/Ediclube, CD Nº 1, EMI 7243 5 20633 2 1, de 1999;
-CD “O Poeta e o Cantor”, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, ano de 1999, Faixa nº 5.

Vários cantores gravaram esta linda canção mas, por vezes, a letra aparece a(du)lterada, incluindo versões impressas em livro, consequência de aprendizagens de outiva.

A gravação de José Afonso, correspondente à versão agora transcrita, encontra-se nos seguintes suportes:
-LP “José Afonso. Fados de Coimbra e outras canções”, Porto, Orfeu, 1981.
-LP “José Afonso. Fados de Coimbra e outras canções”, Riso e Ritmo Discos, Lda., RR LP 2188, ano de 1987, Face A, faixa nº 3, indicando na contracapa os nomes de Octávio Sérgio/Durval Moreirinhas (disco que em 1987-88 se vendia a 1.240$00);
-CD “José Afonso – Fados de Coimbra”, Movieplay, SO 3003;
-CD “Fados e Guitarradas de Coimbra”, Lisboa, MOVIEPPLAY, MOV. 30.332-B, ano de 1996, disco nº 2, faixa nº 1, sendo a recompilação orientada por José Niza;
-CD “Fados de Coimbra e outras canções”, Lisboa, Movieplay, JA 8011, ano de 1996, faixa nº 3.
A gravação do concerto dado no Coliseu de Lisboa em 1983 veio editada no LP “José Afonso ao vivo no Coliseu”, DIAPASÃO, DIAP 16050/1, ano de 1983, Lp 1, Lado A, faixa nº 3; idem, CD “Zeca Afonso no Coliseu”, STRAUSS, ST 1021010035, ano de 1993; também na cassete “Zeca Afonso ao vivo no Coliseu”, STRAUSS, ST 1021010036, ano de 1993.

Outros registos:
-CD “Do Choupal até à Lapa – Grupo de Fados da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra da Madeira”, EMLI, s/n e s/d, de ca. 1994 (canta Luis Filipe Costa Neves).
Dos vários aproveitamentos conferidos a este espécime, destaquemos uma rapsódia de Artur Paredes (década de 1920) e uma outra de Jorge Tuna (década de 1960)
(José Anjos de Carvalho e António M. Nunes Agradecimentos: D. Maria José Bettencourt, Maestro João Anjo, Dr. Afonso de Sousa, José Moças (Tradisom).
Texto retirado do blog: http://guitarradecoimbra.blogspot.com)









1 comentário:

  1. Era de referir, coisa que eu não sabia e descobri hoje por acaso, que o Zeca gravou duas versões muito diferentes desta música. Comparem-se os seguintes vídeos no youtube:

    http://www.youtube.com/watch?v=-FCoa-UshJ8&feature=related

    http://www.youtube.com/watch?v=0rBsv-YGsxU

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